- Daniela!
[Com um tom de: você por aqui? Quanto tempo?]
- Oi, Luiz Carlos. [É isso mesmo, Luiz Carlos]
- Quanto tempo?
- Pois é, e você estudando muito?
[É, como sempre estava com a minha mochila nas costas]
- Um pouco né.
- Mas e ai e você? Tá fazendo o que?
- Ah nessa vida, ciências sociais, sociologia.
[Sei que vão logo perguntar o que é então já explico]
- Ah que legal, onde?
- Na federal.
- Nossa você era um cara esforçado, merece.
- Ah que nada. E o resto da galera, as meninas?
- Ah, a “Yonára” já se formou. A “Vanessa” tinha passado na UFG mas trancou e foi fritar ovo pros outros lá fora.
[E nessa hora sempre me vem um flash do passado misturado com o presente. Imagino a Yonára num escritório junto com o chefe gordo e bufão, logo ela a garota mais bonita da sétima série e mais inteligente. Imagino-a hoje gorda num barzinho em fins de semana com o namorado pronta pra se casar, fazendo planos e planos, sonhando um dia com um cargo de alto nível na empresa. Imagino a Vanessa no exterior – sabe lá Deus onde – lavando pratos para as pessoas e ligando sempre aos domingos oito horas da noite – aqui – e dez – lá – morrendo de sono. Contando o que tem feito, onde foi, que logo voltará e que um dia sua mãe irá visita-la e sempre no fim da ligação um chorinho de praxe. Tem que desligar porque a tarifa e muito alta e que na segunda sua patroa será outra, uma mulher sistemática que gosta das louças bem branquinhas.]
- E a “Jordana”?
- Ah, a “Jordana” casou, separou tem dois filhos agora.
- Legal, e você a vê?
[Legal!?, a Jordana com filhos!?]
- Ah para né Luiz Carlos ela é minha prima. Tá loira agora, mas do mesmo jeito. Aquele jeito engraçado dela.
- Bom saber das pessoas depois de muito tempo. E o Sex-shop é da família?
- Não, só trabalho aqui.
- Casou tambem?
- Casei, separei. Casei com o “Wilson”, [Que Wilson!? O Wilson que me lembro era nanico e nerd, e da última vez que o vi ainda tava nanico.] filho da dona da cantinha do colégio. Entra aí pega meu orcute. A “Jordana” tá lá, adiciona o pessoal.
[E então que entrei naquele mundo paralelo, pequeno mas paralelo, logo alí na 4 quase esquina com a 9, centro. Embora tenha visitado vários ambientes diferentes, tenha dividido espaço com prostitutas, bandidos, crianças sujas e “mele-quentas”, rappers, metaleiros, punks, maconheiros, administradores, contadores, vendedores, caminhoneiros, advogados, “piriguétes”, cunhados, gatos e até cachorros, aquilo pra mim tudo era novo. Sempre fui do tipo observador, que ao entrar num espaço novo, pra mim, meu olho percorre todos os cantos desse ambiente, sendo quadrado ou não. E meu olho conseguiu captar pouco do que alí havia de adereços: chicotinho, calcinha sabor de morango, copo com poses, dados de jogo sexual, calcinhas de renda, fantasias, quase tudo que um bom cliente sabe o que tem. Para minha surpresa entra logo em seguida duas lindas mulheres de uniforme, constrangidas por haver dois homens, lá dentro pegando o orcute dessa tão nostálgica amiga. Puxa com eram lindas, tomaram um susto, penso que porque, havia homem naquele ambiente tão, acho, que familiar pra elas. E lindas daquele jeito procurando um somatório pra relação, naquele fim de semana ou até mesmo naquela noite seus, noivos, namorados, maridos ou amantes iriam ter com que sorrir no outro dia. Logo vejo um livro que me chama muita a atenção desde auto-ajuda sexual até o famoso das poses milenares desenvolvidas na Índia.]
- Quanto tá o kama-sutra?
- Ah, tá 49 reais, pode ficar a vontade.
- Então, tenho que ir mas depois eu volto pra gente conversar, vou adicionar você depois.
[E então que deixei aquele lugar de meia porta aberta, com duas lindas loiras, procurando um fetiche, dei-lhe um tchau simples pra que não atrapalhasse com a possível venda, de um chicotinho, de uma bota tipo "sádica", ou coisas que fossem fofa pra que elas pudessem aplicar e apertar.]
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