domingo, 19 de dezembro de 2010

Tiroteio na pça universitária

A combinação perfeita é um risco, pode agradar a alguns mas não a todos.

Os loucos se encontram em becos, vielas, praças desertas e bares. Não há loucos no AA e nem no NA - Narcóticos Anonimos. E é no 'Bar da Tia' que eles se encontram. O alcool os tornam bravos, homens, estupidos, corajosos ainda mais quando se quer acabar com o que esta chato, com pegação vazia, com as visitas antipáticas e sei que o que menos que se quer acabar ali é com as amizades. O momento era propício para mais uma história das boas e bem que rendeu. Rendeu ódio, tristeza e incerteza. Sou sádico vi todos chorando e enquanto isso eu ria e pensava: Ele é um puto.

O fato é que o embriagado e louco do Renam resolveu encrencar com os traficazinhos da praça. Antes disso eram 'Zés Manés' e ainda são só que com a moral do bar todo. Mal entendido estabelecido o que faltava era gente pra brigar e foram 10 ou 15 minutos e havia um pequeno exército de sóbrios. Os pontos nas frases se tornaram reticências. O pequeno exército de cowboys-urbanos recuou temporariamente, até que o xerife chegasse para demonstrar a estrela de bravo.

O bandido entimidou com o ópio da era moderna e o xerife com a pistola do estado. Alguns correram outros toparam o duelo e todos observaram. A briga foi separada, os tiros quase saíram. Nervos calmos a raiva ficou sendo remoída e hoje as frases do resultado estampam os jornais pessoais virtuais.

E o herói da vez foi uma éspecie de diplomata das causas, um negociador que nada mais fez do que bater pernas achando-se um máximo.  E é disso que a sociedade precisa de falsos heróis. Nem xerife e nem bandido e sim um ícone.

Dinâmica Social


A decorrência dos fatos aqui seria simples e sua analise complexa. Ficará perguntas e ficará respostas.

      Meu cotidiano é: acordar, me vestir, pegar ônibus, trabalhar, pegar ônibus, faculdade, pegar ônibus e por fim casa. Veja que eu faco o mais do mesmo todos os dias. Nota-se também que o verbo de ação vem acompanhada de seu respectivo substantivo e aparece três vezes no enunciado (pegar ônibus). Não há nada de especial aí a não ser os personagens que me aparecem diariamente.

      Nós seres moventes, detentores do nosso direito de ir e vir, usufruímos disso diariamente. E para isso o estado nos garante o chamado transporte publico, que envolve milhares e as vezes milhões de pessoas. É bem pouco provável, numa cidade onde mais de meio milhão de pessoas  utilizam o transporte, encontrar as mesmas pessoas. E nem ligo, não é diferente comigo, mesmo eu saindo todos os dias no mesmo horário.

      Hoje (09/10/10) não foi diferente, a não ser pelas pessoas. Meus personagens aqui que marcaram foram 2 transeuntes que não possuem nenhuma ligação entre eles e eu e mesmo assim houve uma ocorrência que nos manteve por um tempo curto conectados, envolvidos na dinâmica da teia social. Aquela ligação social que ninguém percebe: “O banqueiro precisa do bancário que precisa do cliente que precisa do patrão que precisa...”

      Descrevo-os fisicamente. Ela fez-se notar quando abriu a boca para evangelizar. Era mais uma das várias que possuía vestimenta simples, que não chama a atenção pela trivialidade. Sapato de plástico baixo leve preto, saia jeans azul-escuro que ia da canela até a cintura, camisa tipo baby-look listrada alternada entre as cores amarelo-claro e rosa-suave. Não era muito alta devia ter 1,60, 65 no máximo, cabelo encaracolado preso, pele morena queimada do sol do cerrado e uma face não muito agradável.

      Ele um rapaz alto, moreno uma feição rude, forte. Camisa branca com estampa de marca, jeans azul e tênis. Na mão uma mala, parecia pesada. Ambos não chamam a atenção pelo perfil comum do centro do brasil. Não acompanhava a evangelizadora, nem sequer a conhecia.

      Houve uma antipatia da minha parte quando a propagadora da palavra e dos cânticos perturbou a paz e o sossego daquela viagem. Um trajeto de 30 minutos e todos naturalmente despercebidos de si e de tudo, cabeças cheias de preocupações e vazios da noção e do sentido de suas vidas. Incomodou a mim e muitas outras pessoas. Todos a olhavam com asco, pena e sanidade incluse eu. No fim das contas seu foco era ganhar trocados para continuar com a obra. “Pastora de eixo anhanguera.”

      O rapaz ao meu lado oferece-se para ajudá-la com um trocado, os 2 reais na mão esquerda cerrava seu punho enquanto a outra ajudava-o a equilibrar. Com o braço encolhido na altura do peito pronto para a outorga da esmola o ônibus dá uma arrancada que o faz balançar bruscamente em minha direção. “SOC”. Um murro bem na costela a dor é instantânea, acerta-me o osso, os três que protegem meu intestino e o figado.
-        “foi mal!”
      A perturbadora da sagrada e pacífica viagem recebe seu trocado e informa com neutralidade, aconselhando na sua frieza e pensando na economia: - Acontece, realmente acontece.

      Me fiz duas perguntas: Foi Deus ou a dinâmica social que me fez levar este soco a troco de nada?
      Se foi Deus, então o soco é um castigo pela minha apatia e desatenção a sua fiel discípula a “pastora de eixo anhanguera”.
      Se foi a dinâmica social, o soco é resultado da ação reação de sair de casa todos com propósitos diferentes que além de tudo se encontram.