A decorrência dos fatos aqui seria simples e sua analise complexa. Ficará perguntas e ficará respostas.
Meu cotidiano é: acordar, me vestir, pegar ônibus, trabalhar, pegar ônibus, faculdade, pegar ônibus e por fim casa. Veja que eu faco o mais do mesmo todos os dias. Nota-se também que o verbo de ação vem acompanhada de seu respectivo substantivo e aparece três vezes no enunciado (pegar ônibus). Não há nada de especial aí a não ser os personagens que me aparecem diariamente.
Nós seres moventes, detentores do nosso direito de ir e vir, usufruímos disso diariamente. E para isso o estado nos garante o chamado transporte publico, que envolve milhares e as vezes milhões de pessoas. É bem pouco provável, numa cidade onde mais de meio milhão de pessoas utilizam o transporte, encontrar as mesmas pessoas. E nem ligo, não é diferente comigo, mesmo eu saindo todos os dias no mesmo horário.
Hoje (09/10/10) não foi diferente, a não ser pelas pessoas. Meus personagens aqui que marcaram foram 2 transeuntes que não possuem nenhuma ligação entre eles e eu e mesmo assim houve uma ocorrência que nos manteve por um tempo curto conectados, envolvidos na dinâmica da teia social. Aquela ligação social que ninguém percebe: “O banqueiro precisa do bancário que precisa do cliente que precisa do patrão que precisa...”
Descrevo-os fisicamente. Ela fez-se notar quando abriu a boca para evangelizar. Era mais uma das várias que possuía vestimenta simples, que não chama a atenção pela trivialidade. Sapato de plástico baixo leve preto, saia jeans azul-escuro que ia da canela até a cintura, camisa tipo baby-look listrada alternada entre as cores amarelo-claro e rosa-suave. Não era muito alta devia ter 1,60, 65 no máximo, cabelo encaracolado preso, pele morena queimada do sol do cerrado e uma face não muito agradável.
Ele um rapaz alto, moreno uma feição rude, forte. Camisa branca com estampa de marca, jeans azul e tênis. Na mão uma mala, parecia pesada. Ambos não chamam a atenção pelo perfil comum do centro do brasil. Não acompanhava a evangelizadora, nem sequer a conhecia.
Houve uma antipatia da minha parte quando a propagadora da palavra e dos cânticos perturbou a paz e o sossego daquela viagem. Um trajeto de 30 minutos e todos naturalmente despercebidos de si e de tudo, cabeças cheias de preocupações e vazios da noção e do sentido de suas vidas. Incomodou a mim e muitas outras pessoas. Todos a olhavam com asco, pena e sanidade incluse eu. No fim das contas seu foco era ganhar trocados para continuar com a obra. “Pastora de eixo anhanguera.”
O rapaz ao meu lado oferece-se para ajudá-la com um trocado, os 2 reais na mão esquerda cerrava seu punho enquanto a outra ajudava-o a equilibrar. Com o braço encolhido na altura do peito pronto para a outorga da esmola o ônibus dá uma arrancada que o faz balançar bruscamente em minha direção. “SOC”. Um murro bem na costela a dor é instantânea, acerta-me o osso, os três que protegem meu intestino e o figado.
- “foi mal!”
A perturbadora da sagrada e pacífica viagem recebe seu trocado e informa com neutralidade, aconselhando na sua frieza e pensando na economia: - Acontece, realmente acontece.
Me fiz duas perguntas: Foi Deus ou a dinâmica social que me fez levar este soco a troco de nada?
Se foi Deus, então o soco é um castigo pela minha apatia e desatenção a sua fiel discípula a “pastora de eixo anhanguera”.
Se foi a dinâmica social, o soco é resultado da ação reação de sair de casa todos com propósitos diferentes que além de tudo se encontram.
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